03 dezembro 2011

Amigos Fontes

Quando se vive para ouvir música... Quando ela o fascina na pré-adolescência e você não pensa, e nem quer, passar um dia sem ouvir sons, gravar clipes e shows no hoje extinto videocassete: o pensamento é de que realmente achou algo que ama e que realmente o interessa. Acha-se mais um sentido de existência.

A música é mágica, qualquer estilo que seja, exceto a feita somente para fins comerciais, desprovida de sentimento; é a emoção subjetiva individual exteriorizada na vida concreta. Muitas vezes, a paixão pelo que se faz é mais valorizada do que a técnica instrumental. E isso salta aos olhos quando realmente se permite a observação por simples prazer.

Essa arte causa consequências no ser quando à escuta. E foi isso que aconteceu quando descobri o Rock and Roll. Igualmente como milhares de jovens adolescentes de qualquer canto do mundo, senti uma sensação de pertencimento a essa forma de execução musical e o modo de vida dos seus produtores e adeptos. E as audições se tornaram, e ainda tornam, uma arma de fuga ao desnorteamento existencial e aos medos interiores.  A anestesia pela música fazia, e faz efeito, como também se sucede com o ato de escrever. A busca pela diversão é conquistada ao escutar o que se dispõe encontrar.

Junto com o descobrimento da paixão pela música, principalmente pelo rock, surgiu uma vontade latente de me alimentar de tudo relacionado a esse mundo paralelo. Horas em frente à tevê à cabo saciou-me bastante. A lembrança é recente até hoje, 11 anos depois dos primeiros clipes vistos: Under the Bridge ao vivo do Red Hot Chili peppers, Heart-Shaped Box do Nirvana e Even Flow do Pearl Jam; foi minha iniciação ao rock and roll. Desde esse ponto não parei mais de ir incansavelmente atrás de bandas e artistas. Alguns anos depois, com a internet os caminhos se tornaram mais fáceis.

No entanto, além da MTV, a qual devo muito, e a internet como maior fonte; a via de absorção de novidade mais interessante são os amigos! São fontes riquíssimas de compartilhamentos. Muito da ecleticidade e o respeito que conquistei pela diversidade veio através das preferencias de cada um.

Logo após se mostrou o pai do rock. O Blues. O inicio de tudo. Música de pura alma dos negros americanos. De lamentação. De protesto. É outra paixão. Precursores como Robert Johnson, Howlin’ Wolf, Muddy Watters, mais tarde B.B.King... Não tem como não admirar esse estilo sentimental das notas do blues. Gênero que misturado com o rock and roll torna-se potentíssimo, o chamado de Blues Rock. Combinação perfeita. Talvez o estilo de maior beleza e produção de todos. Com artistas referências como Eric Clapton, Rory Gallagher, Stevie Ray Vaughan, e inúmeras ótimas bandas dos anos de 1970 que passaram despercebidas. Aliás, que aqui no nosso país encontram-se ótimos artistas, como: Fernando de Noronha, Solon Fishbourne, Blues Etílicos, Celso Blues Boy, Clube dos Patifes... Estes três últimos, felizmente, apresentados por um colega de apartamento.

O Reggae me instigou quando vi um pôster do Bob Marley de um amigo da minha irmã no quarto dela. Depois de mergulhar na vida e na obra desse ícone, a identificação foi certeira e resultou na tatuagem do seu rosto no meu braço esquerdo, feita aos 14 anos. Uma marca que me orgulho até hoje. Esse estilo tenho como fonte um amigo que escuta quase que unicamente o reggae, e dos mais tradicionais. Mantenho-me informado das novidades e antiguidades com ele. Abyssinians, Skatalites, Groudation, Gladiators, Monte Zion, Mato Seco, e por aí vai...

A Música Gaúcha Nativista, obviamente, por ser gaúcho veio em primeiro lugar. É a identidade primária. Quando era criança era só o que conhecia e interessava escutar, mesmo não tendo a noção gigantesca do que ela representava para quem a vivia. Isso foi até a descoberta do estilo internacional. Portanto, houve um hiato grande. A música da minha terra ficou de molho no meu gosto e inconsciente.

Então, muito depois do entusiasmo pelo mundo paralelo do rock and roll, um parceiro, em meio a uma bebedeira de amigos coloca um álbum de um artista da vizinha Uruguaiana, chamado Pirisca Grecco. Silenciei. Prestei atenção no teor das letras e na musicalidade rústica, e vi que falava sobre nós, nossas raízes, o modo de vida dos nossos antepassados. Então aquele orgulho que estava hibernado explodiu.

Uma nova fase começou: uma vontade incessante de conhecer nossas origens, nossa música nativa, a história de nossos homens campeiros, rio-grandenses e castelhanos. As suas características e modos de ver o mundo. Depois veio Luiz Marenco, César Oliveira e Rogério Melo; essa nova safra de mantenedores de nossa cultura verdadeira, que remeteu aos clássicos – Noel Guarany, Jayme Caetano Braun, Leopoldo Rassier, César Passarinho - e por aí infinitamente vai.  Nessa arte tenho como tutor um parente e grande poeta que sempre nas oportunidades ensina e me apresenta o melhor do cancioneiro gaudério.

Isso equilibrou o gosto com os outros tipos de apreciação. Mas com a certeza de nunca correr o risco de perder minha raiz, que encontro na musica nativista. Sempre.

Por fim, o Heavy Metal. Menos apreciado, mas não menos importante. Esse estilo que sua origem é muita controvérsia entre os críticos e usuários do rock and roll.

Há os que defendem que foi o Led Zeppelin que principiou o movimento. Porém, antes deles existiu uma banda chamada Blue Cheer que pesou nos acordes de guitarra em uma regravação de Summertime Blues de Eddie Cochran. O primeiro álbum dessa banda de San Francisco, Eruption, misturou o blues e o psicodelismo de uma forma inovadora. Foi o inicio da fuga dos cansados de toda aquela ideia de contracultura que não apresentava sua solução. Que pouco tempo depois o Black Sabbath aproveitou e surpreendeu o mundo inteiro com notas satânicas, músicas pesadas e de ambiente obscuro; tornando- os os verdadeiros “Pais do Metal”.

O metal serve como aliado nos dias ou momentos de raiva. Nada melhor que o poder de um metal ultra-pesado para expurgar o ódio e incorformação com algo ou situação. Aqui tenho como fonte um dos meus melhores amigos que é fissurado num bom metal. Ao ponto de batizar dois cachorros seus de Iron e Maiden, e ser fã da banda Death e do seu saudoso guitarrista-vocalista Chuck Shuldiner. 

Enfim, a paixão pela música é latente e infindável. A ecleticidade é visível. E os amigos nunca serão substituídos pela internet. A rede é facilitadora, mas nada mais produtivo do que a troca de conhecimentos cara a cara com nossas fontes de abastecimento musical.  Esses sim são mais importantes que tudo nos conhecimentos da arte: os Amigos Fontes! Valorize-os e compartilhe sempre o gosto em comum.

09/11/2010 
Atualizado em 03/12/2011 

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