06 dezembro 2011

Histórias do Rock de São Borja

No dia 25 de Outubro de 2010 foi entrevistado o professor de história e guitarrista, Mário Hoff. Primeira fonte a ser procurada a fim de coletar informações sobre o inicio do rock em São Borja. Atividade feita para o trabalho "Genealogia do Rock de São Borja", da disciplina complementar de graduação “Sociologia do Rock” da Unipampa - Campus São Borja. A conversa se deu na sua residência.

Dez minutos antes da hora combinada estava na frente da casa de Mário Hoff.  Como o portão estava fechado, liguei e ele solicitamente me recebeu. 

Diferente da figura que esperava, Mário Hoff é um coroa cinquentenário, mas com ares de adolescente. Vestido de calça jeans, camiseta branca sem estampa e um All Star igualmente branco; de primeira já deu para remeter à preferencia do entrevistado pelo rock and roll.

“Entra, estou vendo um dos meus ídolos no DVD. Um dos caras mais injustiçados, que não deram a merecida importância: Rory Gallagher, conhece? 

Quando ele falou isso, entramos na sala e estava tocando um blues e solos do artista na TV no volume alto; percebi que a conversa seria muito interessante. Pensamento concretizado. Já de inicio o historiador e descendente de alemão baixou em poucos minutos uma biografia básica do guitarrista irlandês, Rory Gallagher.

A partir daí a conversa fluiu e não linearmente Hoff discorreu sobre variados assuntos; sobre bandas dos anos 70 de São Borja, como Os Soprantes, Os Dinâmicos e Os Sheiks; sobre política; sobre o acesso na época das novidades musicais pela argentina, porque para ele o país vizinho era muito mais evoluído em termos de música que o Brasil e aqui as coisas chegavam com anos de atraso; sobre a sua relação com o rock desde sua adolescência; citou parceiros de música que já se foram; em suma, uma conversa daquelas em que se se sente confortável e que não se percebe o passar das horas e o chegar da noite. 

Sobre as primeiras bandas de São Borja, o entrevistado contou:

“A primeira banda que eu vi em São Borja era música misturada, Os Soprantes; era um militar que veio pra cá... Um fuzileiro naval. O cara tocava órgão, mas faziam mais rock nacional. Naquela época quem fazia as traduções das novidades de fora era o Renato e seus Blue Caps. E eles interpretavam essas músicas aqui. Acho que foi por volta de 1970 isso aí. Mas ali em 1972/73, eu comecei a tomar consciência de outras bandas que tinha aqui de São Borja. Os Dinâmicos era uma. Nessa época eles tocavam mais música nacional mesmo. Em 1974 por aí, eu comecei a escutar Os Sheiks. Tinha o Guto que tocava muito bem guitarra. Os Sheiks já tocavam Elton John, aquela Crocodilo Rock.” 

“Esses caras que tinham banda e tocavam no final dos anos 60, a maioria tocava no carnaval pra poder ganhar a vida. Os dinâmicos, Os Soprantes e Os Sheiks depois, todos se formaram no passo. Era como os Fevers , faziam rock mas tinham que tocar MPB.”

Logo após ele contou como que era o acesso às novidades das bandas de rock da época. 

“O único acesso que eu tinha era ir a Santo Tomé, e ali aonde é a faculdade de música hoje, tinha um cara que vendia disco. E os discos da época eram pequenos, eram compactos. Então eu comprava dele... Creedence, Neil Young, essas coisas. A argentina estava anos a frente de nós. Quando saía um disco do Creedence, tinha que comprar lá. Na realidade, na época, a Argentina era um país melhor que nós. Passava um momento econômico muito bom na época, estavam por entrar na crise, mas tinha o acesso a Europa muito mais fácil que nós. O outro modo de acesso era em Porto Alegre, porque loja de disco em São Borja não tinha, então tu escutava a rádio.”

A respeito dos instrumentos ele conta que “a primeira loja de instrumentos em São Borja era do seu Armandinho e ele tinha só violão. Como era difícil a gente ter uma guitarra na época, era complicado, tinha que ir a porto alegre comprar. A loja Transasom só abriu nos anos de 1980”. 

Quanto se as bandas tinham espaço para shows, Hoff comenta: 

“Na minha época não existia som mecânico, nos sábados era sempre uma banda que tocava no Recreativo, começava as onze horas e ia até as cinco da manhã. Depois junto com o som mecânico veio o fenômeno da discoteca  e  matou as bandas.”

Mário Hoff compartilhava seus conhecimentos de forma pausada e com vontade, percebia-se que estava aconchegado ao dialogar sobre uma das coisas que mais gosta: o Rock and Roll. 

O amante de blues rock começou a tocar guitarra há 10 anos e fez parte de várias bandas, porém todas de curta duração.

“Comecei a tocar depois de velho. Na verdade um amigo meu, Caio Pientá, que já morreu, foi quem me incentivou muito a tocar. Aí eu comecei a me dedicar mesmo.” 

A partir dos anos 2000, Mário Hoff fez parte de bandas como a Cia Blues, a Riverside Blues em 2004, que tinha na sua formação, Milton Ishimo (voz e guitarra); Mário Hoff (Guitarra); Jean (baixo) e Roberlan (bateria); e mais recentemente a Spring Garden Band nome em alusão ao bairro Jardim Primavera onde aconteciam os ensaios.

Em certo momento, seu filho, Matheus, de 16 anos, se fez presente e ouvinte na sala e Mário contava com orgulho que o rebento já estava tocando violão e guitarra muito bem. 

A Spring Garden Band (banda que seu filho também participou) fez uma única apresentação no Clube Recreativo no inicio desse ano (2010).

“A gente ficou seis meses ensaiando e fomos tocar no recreativo. Tocamos Creedence, ZZ Top, Stevie Ray Vaughan. Era pra nós tocar meia hora e tocamos 54 minutos. Até a gurizada falou lá ‘esse ano foi muito ruim, o que salvou foram os velhos lá’.” 

Para concluir, Mário Hoff opina: 

“São Borja sempre foi muito curto em termos de música. Hoje, de uns dez anos pra cá que começaram a se mexer de novo. Acho que hoje os guris fazem um trabalho muito melhor do que da época, até por terem mais acesso, facilitado com a internet.”

Foram assuntos intercalados por palinhas de temas da preferencia do entrevistado no violão, muitas audições de shows de rock e blues tradicionais. 

No fim, Mário Hoff mostrou o pequeno estúdio no andar de cima de sua casa, que, junto com seu filho, costumam ficarem horas “brincando” um pouco.

Portanto, não poderia deixar de registrar em vídeo esse momento. 
Confira um trecho:

 

26/10/2010
Atualizado em 06/12/2010

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