16 abril 2013

As dez baladas mais clássicas do rock argentino



Se há uma nação que aparenta ser muito mais patriota que a nossa essa nação é a Argentina. Até porque o Brasil é, na verdade, um continente com muitos Estados Países multiétnicos. Porem, na Argentina esse ufanismo se reflete potencialmente no tango e no rock argentino; duas das principais manifestações musicais do país. E aqui o que há é uma miscelânea de ritmos que não representam o país como uma unidade.

No momento, o que não para de tocar nos fones de ouvido, por questão de preferencia, é esse rock apaixonado que se faz no outro lado do rio. Percebe-se como espectador distante que há muito mais orgulho, mais vigor em passar esse pertencimento identitário através desse gênero. O rock argentino é parnasiano. Os artistas parecem serem mais valorizados. Músicos que são cânones atemporais no país ainda lotam estádios, vide Charly García e Fito Páez. Talvez os mais conhecidos aqui no Brasil. Mas o catálogo de artistas ídolos do rock da Argentina é extenso.

Na metade dos anos 1960, quando o rock tomou conta da Inglaterra e dos EUA, os argentinos de imediato tiveram contato com essa revolução cultural e logo nasceram bandas como Los Gatos, Manal e Almendra. Grupos que se podem considerar precursores do estilo na Argentina. Enquanto aqui no Brasil ainda estávamos engatinhando. O ritmo ainda não existia. Recém tínhamos versões de Celly Campelo e depois da Jovem Guarda. Nossos vizinhos estavam há muitos anos na frente em termos de produção cultural por meio do rock and roll.

Lá a efervescência era grande. Depois apareceu Pescado Rabioso, Sui Generis, Serú Girán, Pappo’s Blues (liderada por Norberto ‘Pappo’ Napolitano a maior autoridade de blues que existiu no país), Color Humano, Vox Dei; e uma infinidade de bandas que faziam aquele rock clássico de alta qualidade. Muitas delas tocaram no mesmo palco, em 1972, no famoso Festival B.A Rock, retratado no filme ”Hasta que se Ponga el Sol”, de Aníbal Uset, algo como o Festival de Woodstock da Argentina. O filme é um documento histórico cultural do país e ali se tem a real noção do brilhantismo do rock feito pelos nossos “hermanos”.

Fazer uma lista é um processo muito subjetivo. Geralmente, escolher as preferidas é um sofrimento. Mas essa não foi difícil. São canções que no primeiro contato já se sente porque são aclamadas em seu país. São temas que tocam realmente, pelo lirismo que possuem. Transcendem questões de gostos específicos. São belas canções universais. Ei-las:

10. Trátame Suavemente - Soda Stereo: A banda mais popular da Argentina dos anos 1980 e 1990. Sucesso da mesma proporção que a Legião Urbana aqui no Brasil. Formada pelo baterista Charly Alberti, pelo vocalista e guitarrista Gustavo Cerati e pelo baixista Zeta Bosio. A Soda Stereo, durante 15 anos (1982 – 1997) de carreira estiveram no topo da fama. Maior exemplo de tamanho prestígio do trio são as duas apresentações entusiasmadas, como atração principal do Festival Internacional da Canção de Viña del Mar, em 1987.

São autores do famoso hit “De Musica Ligera”, que foi tema de duas versões aqui: uma d’Os Paralamas do Sucesso, com o mesmo nome; e outra do Capital Inicial, chamada “À sua Maneira”. Em 2007, reuniram-se para a turnê Me Veras Volver. Na volta triunfal fizeram história ao ser a primeira banda de rock a realizar cinco shows seguidos no Monumental de Nunez, Estádio do River Plate. Posteriormente, apresentaram-se também, no México, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Chile. Finalizada a excursão cada um retornou para os seus projetos. Tristemente, em meados de 2010, Gustavo Cerati sofre um AVC, em meio a uma apresentação em Caracas. Desde lá continua em coma na Clínica Alcla, em Buenos Aires. Soda Stereo é, sem dúvida, uma das bandas mais imprescindíveis do rock ibero-americano. Tratame Suavemente é o tema mais romântico da banda. Deve ter embalado muitos casais na época. Outros, entre tantos, enormes sucessos do Soda, destacam-se: Nada Personal, Persiana Americana, Cuando Pase el TemblorEn la Ciudad de la Furia.




9. Imágenes Paganas - Virus: Virus é uma banda pop tipicamente dos anos 1980. Daquelas do estilo New Wave; que abusam do teclado, sintetizadores e bateria eletrônica. Fizeram considerável sucesso até 1988. Ano em que perderam para o HIV o seu líder, Federico Moura. Continuaram por mais um ano, com o irmão de Federico nos vocais. Em 1994 voltaram, e estão ativos até hoje. Mas, nunca mais chegaram perto de Imágenes Paganas, o maior sucesso da banda no seu auge.




8. Seguir Viviendo sin tu Amor - Luis Alberto Spinetta: O El Flaco. Foi um dos poetas musicais mais importantes da Argentina. Compositor, cantor e guitarrista. Mentor de uma das bandas seminais do rock do país, o Almendra. As letras de Spinetta vertem influencias de filósofos, escritores, poetas e pensadores de renome, como: Rimbaud, Castaneda, Foucault, Deleuze, Nietzsche, Jung, Freud e Artaud. E é Artaud o nome do principal álbum do Pescado Rabioso, grupo liderado por Spinetta de 1971 a 1973. O guitarrista David Lebón (Serú Girán) também fez parte da banda. Foram apenas três anos de duração, mas o suficiente para editarem três obras primorosas: Desartomentándonos (1972), Pescado 2 (1973) e Artaud (1973). Este último considerado, através de uma votação da revista Rolling Stone, o melhor disco da história da música Argentina. O Pescado Rabioso era um grupo que fazia baladas e um blues rock impecáveis. Por suas produções nos anos 1970, Spinetta foi reconhecido em toda a América do Sul. Foi partícipe de outras bandas nas décadas seguintes: Invisible, Spinetta Jade, e Spinetta y los Socios del Desierto. Depois seguiu carreira solo ativamente - até dia 8 de fevereiro de 2012, quando a notícia de sua morte por câncer no pulmão entristeceu a todos que sentiam sua genialidade. Com a melosa Seguir Viviendo sin tu Amor nota-se a dimensão de sua sensibilidade artística. É um bom ponto de partida para começar  a conhecer o seu trabalho. Outro clássico seu é Rezo por Vos (parceria com Charly García). Imaginem o que pode sair dessas mentes juntas.




7. Carabelas Nada - Fito Páez: um dos principais e exímios compositores do país, do porte de Spinetta e Charly Garcia. Talvez o músico argentino de maior popularidade no exterior. Seu álbum El Amor Despues del Amor (1992) é o mais vendido de toda a história do rock argentino, ultrapassando a marca de 700 mil unidades. Isso rendeu uma turnê de estádios lotados em nove países e uma apresentação para um público de 50 mil em Cuba, a primeira de um artista estrangeiro na Plaza de La Revolución. Seu hit pop Mariposa Tecknicolor foi talvez a música argentina mais tocada nos anos 1990. Além de músico e compositor, se aventurou no cinema. Dirigiu e escreveu um média metragem (La Balada de Donna Helenae um longa (Vidas Privadas). Dentre os artistas argentinos é o que cultiva maior ligação com o Brasil. Foi regravado e fez parcerias com Caetano Veloso, Os Paralamas do Sucesso, Djavan, Thedy Correa, Titãs. É um aficionado pela música brasileira. Fã de Chico Buarque, Fito já fez muitas referencias ao poeta brasileiro em suas canções e regravou a música Construção no álbum Confiá, de 2011. Carabelas Nada na primeira palavra menciona Chico Buarque. É um tango arrastado, com uma bela linha de piano. É uma canção que suscita imagens. Um retrato de Buenos Aires, do bairro Caballito numa tarde chuvosa, de belas mulheres com suas lindas pernas descendo de um taxi. Fito tirou essa balada de dentro da alma.




6. Los Dinosaurios - Charly García: este dispensa maiores apresentações. Com mais de 40 anos de carreira é sinônimo de rock argentino. É uma das personalidades mais icônicas da América Latina. Reconhecido tanto pelo seu talento musical, como pelo seu comportamento polêmico e desregrado. Cantor, compositor, produtor, guitarrista e perito em piano. Artista ativo, liderou bandas do primeiro escalão do rock argentino, como Sui Generis, PorSuiGieco, La Maquina de Hacer Pájaros e Serú Girán. Desde 1982 possui uma equilibrada carreira solo. Já deixou seu legado na história da música argentina. Nem é necessário produzir mais. Mas quanto mais do Charly melhor. Los Dinosaurios é uma das mais lindas composições de sua carreira como solista. É uma balada triste que versa sobre perda, sobre o imprevisível e a brevidade da vida.




5. Seminare - Serú Girán: para muitos críticos e melomaníacos argentinos é considerada como a maior banda de rock da Argentina de sempre. Formada por Charly García, David Lebón, Pedro Aznar e Oscar Moro; o grupo foi referencia de protesto contra a ditadura, e se destacavam por misturarem gêneros musicais como, blues, jazz e progressivo. Em muitas de suas músicas a impressão que se tem é como se o Pink Floyd (progressivo do Charly Garcia) tivesse o Jaco Pastorius em sua formação (pela técnica no baixo fretless do Pedro Aznar). Na letrística transitavam por temas universais como amor, solidão, nostalgia e costumes. Seminare, juntamente com Eiti Leda, são as principais canções de amor deles. Estão juntas no álbum homônimo de estreia da banda, de 1978.




4. Canción para mi Muerte - Sui Generis: como o termo significa, foram únicos no país. A primeira banda de Charly García e Nito Mestre - o flautista latino. Junto com eles, fizeram parte do grupo: Carlos Piegari, Beto Rodríguez, Juan Belia e Alejandro Correa. Ao longo de sete anos de atividade ocorreu várias deserções na banda. Mas a essência era a dupla. Cancion para mi Muerte é a obra prima da banda folk. É uma epígrafe nostálgica para a morte dos sonhos da juventude.




3. La Colina de la Vida - León Gieco: o Bob Dylan argentino. Um dos maiores compositores e cantores populares da Argentina. Autor de muitas músicas de cunho social e político. Gieco é a mistura de rock rural com folclore urbano. Suas canções são libelos a favor dos direitos humanos. É a outra ária eterna de Gieco. Da altura emotiva de Sólo Le Pido a Dios. Para os mais roqueiros podem conhecê-la na versão mais punk da banda Attaque 77, dividindo o microfone com o próprio Gieco.




2. Sólo le Pido a Dios - León Gieco: é o seu tema mais afamado. Literalmente um hino contra a injustiça social. Canção eternizada e reconhecida (se não mundialmente, deveria ser), na voz da grande Mercedes Sosa. Além desta e de La Colina de la Vida, outra composição sua de ampla notoriedade é Hombres de Hierro.




1. Viernes 3am - Serú Girán: A pérola do supergrupo de rock mais cultuado pelos castelhanos. Viernes 3am é a canção mais linda já feita na Argentina. Os arranjos, a harmonia, o vocal do Charly e o som dos ponteiros do relógio tornam-na única. Arte perfeita. Inesquecível.



Rock Argentino, Gracias Totales! Fuerza Cerati!


A estreia encantada de Bebeto Alves


Ás vezes nos bate uma sensação de nostalgia de tempos que não vivemos, de filmes que só ouvimos falar e de músicas que nunca escutamos. Encantamo-nos com coisas que não lembramos, mas que nos soam familiar. Informações escondidas no âmago da nossa mente. É por isso que sentimos entusiasmo ao (re) descobrir algo que nos dá prazer.

Foi exatamente esse o efeito ao encontrar e escutar o primeiro álbum do músico gaúcho Bebeto Alves. Parecia que conhecia aquelas músicas. Quem sabe tenha escutado quando criança... Tenha ouvido no rádio, em casa... E a memória tenha retido e ficado hibernada no consciente.

O disco é de 1981. Foi produzido por Carlinhos Sion e teve como grupo de apoio os músicos da banda Bixo da Seda. A obra traz um clima de lamento telúrico nos arranjos das suas 11 faixas. Principalmente na abertura com “Sant’Anna do Uruguay” (com Luiz de Miranda), que usa a ponte e o rio como metáforas para falar de pertencimento e saudade. E o sucesso radiofônico “De um Bando”, que mais parece uma música tribal, de chamamento, com um instrumental crescente, embasado num bombo leguero enfático. Na mesma essência seguem-se “Água” (Cao Trein); e “Fogueirais”, “Raiar” e “Bandeira” (esta com Fernando Ribeiro). Temas com ares de bucolismo para se ouvir na companhia do isolamento, e do mate; eterno fiel amigo.

O uruguaianense Bebeto Alves é um músico peculiar do Estado. Surgido com aquela turma dos anos de 1970 da chamada Música Popular Gaúcha, junto com Carlinhos Hartlieb, Nelson Coelho de Castro, Cao Trein, Claudio Vera Cruz, Nando D'Ávila, Raul Ellwanger, entre outros. Nomes que agitaram a música rio-grandense da época, com a apresentação “Voltas” (gravado ao vivo em 1977 e lançado em CD em 2004) e com o álbum “Paralelo 30” (de 1978).

Bebeto nunca foi estático. Sempre procurou se reinventar musicalmente. Tem como característica a aproximação da milonga com a música moderna, o rock com o folclore gaúcho, e esse trabalho é seu nascimento artístico e quiçá sua obra- prima. Hoje, um álbum um tanto esquecido, mas que ao escutar se percebe sua força e beleza musical. Um álbum para abalizar sua carreira de mais de 30 anos. Se tu tens esse LP guardado, sinta-se um privilegiado.

Dica: no seu sítio oficial (www.bebetoalves.com.br) é possível escutar essa relíquia na íntegra. Além de “Pegadas” (1987), “Mandando Lenha” (1998), “Blackbagualnegovéio” (2004/2006) e de todos os seus outros criativos trabalhos.




Vinil Bebeto Alves (1981)
1.       Sant’Anna do Uruguay
2.       De um bando
3.       Água
4.       Momento encantado
5.       Moleque do parque
6.       A mão e o medo
7.       Fogueirais
8.       Raiar
9.       Bandeira
10.   Kraft!... Mesmo
11.   Polvadeira