09 julho 2013

Jairo Lambari se apresenta pela primeira vez em Itaqui


A noite de 8 de junho foi atípica e especial. Alguns itaquienses tiveram a oportunidade e o prazer de presenciar o show do cantor nativista Jairo Lambari Fernandes. Dentro do cancioneiro gaúcho, Jairo é uma figura ímpar; tanto pela sua música lírica como também pela sua voz de timbre inconfundível. O diferencial de Lambari é o romantismo, a sensibilidade com que retrata suas letras. Faz-nos ver a simplicidade dos antigos da vida campestre, nos faz imaginar e sentir o cheiro do verde infinito das planícies do pampa, retrata encontros, ranchos, paixões comungadas com o mate; enfim, tudo que sua alma e vivência de peão despeja para ser transformado em poesia.

O CTG Rincão da Cruz recebeu um público razoável no evento. As mesas quase todas ocupadas. Poucas pessoas de pé. Muitos foram somente para aproveitar o baile após o show, mas prefiro crer que a maioria foi pelo motivo maior: a performance inédita do cantor cacequiense. Isso nos dá um facho de esperança. Esperança de que ainda há bom gosto e que ainda não fomos engolidos totalmente por aquela música vazia e descartável, que muito a mídia impõe e que somos obrigados a escutar no volume extrapolado em muitos carros pelas ruas. Uma atitude desprezível que deveria ser mais combatida.

O sistema de som do local estava bom, mas para quem não conhecia muito a fundo as letras do artista deve ter tido um pouco de dificuldade em entender. Um ponto um tanto negativo foi que infelizmente muitos desinteressados insistiram em conversarem em um tom alto em suas mesas, atrapalhando em certos momentos. Mas não ao ponto de ofuscar o espetáculo. Quem gosta entende que musicais desse tipo é preciso prestar atenção em cada detalhe, para não perder a essência, os momentos que nos causam entusiasmo; e o silêncio é imprescindível para isso. Essa é a minha leiga percepção.

Lambari se mostrou sucinto e simpático com a plateia. Disse que gostou e se sentiu bem na cidade, e até elogiou a arquitetura histórica do prédio do antigo mercado-público. Quanto ao repertório, foi o esperado. Presenteou-nos com uma mescla das suas músicas baguais mais pulsantes, como: “À Dom Antônio Trindade” e “No Rastro da Gadaria” (que abriu e encerrou de forma empolgante a atração), e com seus grandes sucessos: “Naco de Luz”, “Morena” e “Por Bem Dizer-te”. Temas que resumem o seu trabalho calcado na poética romanesca e nas sonoridades suaves. Executou também destaques do seu último trabalho: “Por um Abraço”, “Enserenada”, “Pra minha Amada”, e a faixa título “Cena de Campo”. Ficou a vontade de escutar “Flor do Mar”, a sua obra-prima, do quilate da clássica “Cordas de Espinho”, de Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcellos.

Lambari nos lavou a alma. Foi cerca de uma hora de contemplação, de exaltação e orgulho da nossa cultura, da nossa verdadeira identidade, a do homem simples e acolhedor; o gaúcho fronteiriço. Pena que acabou. Apresentações como a de Lambari são aquelas que não enjoamos de ver. Cada ocasião é única e com sensações que se renovam.

Todos os organizadores e apoiadores estão de parabéns. Iniciativas corajosas como essas que nos engrandecem como indivíduos. Porque acredito piamente na teoria de que “a cultura é uma poderosa força para a paz interior e coletiva”. Por isso ações culturais como essa precisam ser mais frequentes em nossa cidade. Agora só falta um show do Marcelo Oliveira, mais um cantor de grande talento que canta com a alma, assim como Jairo Lambari Fernandes o faz. Seria mais uma noite marcante.

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