A noite de 8 de junho foi atípica e especial.
Alguns itaquienses tiveram a oportunidade e o prazer de presenciar o show do
cantor nativista Jairo Lambari Fernandes. Dentro do cancioneiro gaúcho, Jairo é
uma figura ímpar; tanto pela sua música lírica como também pela sua voz de
timbre inconfundível. O diferencial de Lambari é o romantismo, a sensibilidade
com que retrata suas letras. Faz-nos ver a simplicidade dos antigos da vida
campestre, nos faz imaginar e sentir o cheiro do verde infinito das planícies
do pampa, retrata encontros, ranchos, paixões comungadas com o mate; enfim,
tudo que sua alma e vivência de peão despeja para ser transformado em poesia.
O CTG Rincão da Cruz recebeu um público razoável no evento.
As mesas quase todas ocupadas. Poucas pessoas de pé. Muitos foram somente para
aproveitar o baile após o show, mas prefiro crer que a maioria foi pelo motivo maior:
a performance inédita do cantor cacequiense. Isso nos dá um facho de esperança.
Esperança de que ainda há bom gosto e que ainda não fomos engolidos totalmente
por aquela música vazia e descartável, que muito a mídia impõe e que somos
obrigados a escutar no volume extrapolado em muitos carros pelas ruas. Uma
atitude desprezível que deveria ser mais combatida.
O sistema de som do local estava bom, mas para quem não
conhecia muito a fundo as letras do artista deve ter tido um pouco de
dificuldade em entender. Um ponto um tanto negativo foi que infelizmente muitos
desinteressados insistiram em conversarem em um tom alto em suas mesas,
atrapalhando em certos momentos. Mas não ao ponto de ofuscar o espetáculo. Quem
gosta entende que musicais desse tipo é preciso prestar atenção em cada
detalhe, para não perder a essência, os momentos que nos causam entusiasmo; e o
silêncio é imprescindível para isso. Essa é a minha leiga percepção.
Lambari se mostrou sucinto e simpático com a plateia. Disse
que gostou e se sentiu bem na cidade, e até elogiou a arquitetura histórica do
prédio do antigo mercado-público. Quanto ao repertório, foi o esperado.
Presenteou-nos com uma mescla das suas músicas baguais mais pulsantes, como: “À
Dom Antônio Trindade” e “No Rastro da Gadaria” (que abriu e encerrou de forma empolgante
a atração), e com seus grandes sucessos: “Naco de Luz”, “Morena” e “Por Bem Dizer-te”. Temas que resumem
o seu trabalho calcado na poética romanesca e nas sonoridades suaves. Executou
também destaques do seu último trabalho: “Por um Abraço”, “Enserenada”, “Pra
minha Amada”, e a faixa título “Cena de Campo”. Ficou a vontade de escutar “Flor
do Mar”, a sua obra-prima, do quilate da clássica “Cordas de Espinho”, de Luiz
Coronel e Marco Aurélio Vasconcellos.
Lambari nos lavou a alma. Foi cerca de uma hora de
contemplação, de exaltação e orgulho da nossa cultura, da nossa verdadeira
identidade, a do homem simples e acolhedor; o gaúcho fronteiriço. Pena que
acabou. Apresentações como a de Lambari são aquelas que não enjoamos de ver.
Cada ocasião é única e com sensações que se renovam.
Todos os organizadores e apoiadores estão de parabéns.
Iniciativas corajosas como essas que nos engrandecem como indivíduos. Porque
acredito piamente na teoria de que “a cultura é uma poderosa força para a paz
interior e coletiva”. Por isso ações culturais como essa precisam ser mais frequentes
em nossa cidade. Agora só falta um show do Marcelo Oliveira, mais um cantor de
grande talento que canta com a alma, assim como Jairo Lambari Fernandes o faz.
Seria mais uma noite marcante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário